Carta Aberta requerendo o cumprimento do plano de carreira

Ao Senhor Diretor executivo da Azul linhas aéreas, caro David Neeleman


A carreira de um piloto de linha aérea é construída através de muito tempo de trabalho e de decisões que começam a ser tomadas desde o início de sua formação como piloto, anos antes do ingresso em uma empresa aérea. É necessário muita dedicação e determinação para isso.


A progressão de carreira de piloto de linha aérea é regida por normas internas e específicas de cada empresa que asseguram o crescimento profissional. Em quase totalidade da indústria aeronáutica internacional, assim como no Brasil, adota-se o sistema de lista de senioridade para o ordenamento das promoções e movimentações para equipamentos de superior complexidade. Sendo assim, o piloto, quando contratado em determinada empresa, sabe que deve orientar a suas decisões de carreira dentro da mesma baseando-se no plano de carreira a fim de atingir suas expectativas de crescimento profissional.

Ao celebrarmos um contrato de trabalho juntamente à empresa, nos comprometemos a realizar nossas funções de acordo com as normas vigentes de aviação, com as normas internas da corporação e respeitando sempre o código de ética da companhia. Cabe ressaltar que a empresa também possui essas obrigações - e deveria dar sempre o exemplo, um dos valores de nossa empresa é a integridade.


Ultimamente o grupo de pilotos vem sendo onerado devido a desvios sistemáticos que a empresa vem praticando de seu próprio Manual Geral de Operações no que tange à progressão de carreira dos pilotos conforme MGO CAP 1 Item Q3, que prevê que todas as movimentações devem ser realizadas conforme descritas no manual de processo de operações.

Nos últimos anos, tem sido impraticável a realização de decisões estratégicas de orientação de carreira dentro da Azul, face à quantidade de alterações no plano de carreira, sendo algumas delas: alterações na lista de senioridade, alterações nos períodos e na obrigatoriedade de Seat Lock, alterações nas movimentações possíveis, alterações nos mínimos de horas para a elevação, inclusão de novos equipamentos na frota, etc.


Não obstante todas estas alterações, a empresa tem se mostrado incapaz nos últimos anos de cumprir com o plano de carreira elaborado e alterado por ela mesma quase que a cada 6 meses, criando cada vez mais distorções e situações de desequilíbrio. Este cenário causa grande indignação por parte dos pilotos, pois suas expectativas são sempre frustradas a cada alteração que dificulta a progressão de suas carreiras. É impossível que se mantenha um grupo de pilotos com alto nível de desempenho e aderência aos padrões da empresa dentro destas condições.


Somos reconhecidos pela empresa como o setor que possui o maior nível de NPS dentre todos os setores da empresa. Somos o grupo que possui maior média de “tempo de casa” dentro da Azul, com vários pilotos sendo os funcionários mais antigos de toda a empresa. Somos o grupo que mais influencia na economia do maior item de orçamento da empresa: o combustível; e de acordo com os dados do programa de economia de combustível estamos indo muito bem. Somos o grupo de funcionários que mais diretamente está ligado à segurança de nossas operações. Somos o grupo que lida diretamente com o bem mais valioso de nossa companhia:O CLIENTE.

Para que haja a garantia de uma boa progressão de carreira dentro da azul para seus pilotos, sendo assim possível a manutenção deste atual grupo na companhia, evitando-se o êxodo do mesmo ou a desmotivação do grupo, algo que viria a prejudicar os atuais resultados positivos da empresa, solicitamos então senhor Diretor Executivo que se cumpram as seguintes medidas:

  • Contratações externas apenas no ATR, sendo este o equipamento base da empresa.
  • Fim da regra de preterição por interesse da empresa.
  • Fazer valer a regra de “negativa para movimentações” conforme Manual de Processos de operações (MPO).
  • Fazer valer a regra de elevação no equipamento, permitindo a promoção do copiloto apenas quando todos os pilotos de senioridade mais antiga já estiverem no mesmo equipamento onde o copiloto pretende ser elevado. Esta regra já está escrita, porém nunca foi cumprida, mesmo não havendo previsão de descumprimento da mesma por parte da empresa nem em casos de necessidade ou interesse da empresa.
  • Extinção das regras de pagamento por preterição, visto que as mesmas vão contra as regras de isonomia salarial previstas no artigo 461 da CLT e podem gerar um grande passivo trabalhista para a empresa.

O descumprimento das normas e processos internos da empresa está descrito em nosso manual de ética e conduta como sendo passível de levar à rescisão do contrato de trabalho por justa causa, conforme Item 4.1 intitulado INTEGRIDADE. A relação com os investidores da empresa também deve se pautar pelo mesmo manual de ética e conduta, sendo que os
processos desenvolvidos pela empresa servem para proteger tanto a empresa quanto o capital dos investidores. A criação deliberada de passivos trabalhistas que poderiam ser facilmente dirimidos caso a empresa seguisse suas próprias normas e processos internos é para com os investidores uma atitude irresponsável e imperdoável.


Caro David Neeleman, acreditamos sinceramente todos os dias que juntos podemos continuar construindo a melhor companhia aérea do mundo e que esse ainda será o melhor emprego das nossas vidas. Mas, para que isso se torne realidade em um futuro próximo, precisamos que a empresa e nossos gestores criem o ambiente ideal para que possamos nos desenvolver junto com a companhia.


Muito certos de sua responsabilidade para com os seus funcionários e acionistas, acreditamos em sua atenção e resolução imediata deste tema.


Obrigado