Carta de eleitores de Renato Roseno em apoio à Elmano de Freitas

Alexandre

/ #11 Considerações críticas sobre a Carta

2012-10-21 08:55

Em geral, tenho uma visão bem tolerante em relação a eleições de segundo turno, pois entendo que, ao se traduzir toda uma linha de pensamento no ato de votar em tais condições, a tendência é do empobrecimento da manifestação política. Tendo, por isso, a não polemizar fortemente na defesa, por exemplo, do voto nulo, como o foi na eleição presidencial, em que me abstive de votar (não apoiei Dilma, estando cada vez mais feliz com minha posição). Mas entendo que a "Carta de Eleitores" do Renato Roseno em apoio a Elmano extrapolou em alguns pontos, que me levam a fazer esta crítica.

Logo no início, há um equívoco maniqueísta grave ao se afirmar "as regras são claras: ou se está de um lado, ou se está de outro". A História é repleta de situações que mostram que tal argumento é falso. Em nosso País, com poucos anos de fundado, o Partido dos Trabalhadores, protagonizou uma situação como essa, quando recusou-se a participar do Colégio Eleitoral e apoiar Tancredo Neves e José Sarney contra a chapa encabeçada por Paulo Maluf. Não se rendendo à intensa chantagem política, o PT corretamente seguiu protestando contra a "eleição" indireta, defendendo "Diretas sem medo, sem Maluf nem Tancredo", tendo chegado ao ponto de expulsar deputados que não seguiram essa orientação de boicote ao Colégio Eleitoral. A pecha de "malufistas" que PCdoB et caverta quiseram aplicar ao PT não pegou e este, fazendo então oposição à "Nova República", cresceu mantendo coerência (sim, ele já teve... hoje, Sarney é aliado...).

Em seguida, há uma crítica ao "protofascismo de Moroni compondo algum cargo relativo à segurança pública municipal" que teria tudo para ser legítima, não fosse por um detalhe. A introdução de um "pelotão especial" da Guarda Municipal, especializado em reprimir protestos, configurando uma linha já protofascista, se deu na gestão do PT em nossa capital. O uso de armamento semi-letal tipo taser, idem. Não sou eu que digo, mas, sim, o site da PMF (http://www.fortaleza.ce.gov.br/gmf/pelotao-especial-pe) que afirma ser sua diretriz "manter o controle de manifestações em órgãos públicos municipais, fazer a segurança de autoridades do município, atuar em processos de reintegração de posse". Ainda sobre protofascismo, sugiro que se informem como é o treinamento desse pelotão. Ficarão chocados. Claro, aqui não cabe defesa ao ultra-reacionário Moroni nem a Roberto Cláudio, mas a demonstração de que, lamentavelmente, as propostas do PT não se diferenciam das da direita sequer nesse aspecto. Os professores da Rede Municipal de Ensino sabem do que falo, por sinal.

Também me causou estranheza o tom da nota ao se referir à "aliança do Psol em Macapá com o DEM e a recente declaração de Plínio (PSOL) colocando a candidatura do Serra (PSDB) como melhor que a de Haddad (PT)" como demonstrações da "imperfeição" da ação política. Neste ponto, os companheiros que assinam a nota cometeram uma grave injustiça e precisam primar pela honestidade intelectual. A declaração profundamente infeliz do Plínio foi de pronto rebatida pelo coletivo do PSOL e o próprio Plinio fez questão de rapidamente esclarecer seu posicionamento, assumindo humildemente o erro ("Se eu ouvisse minha mulher, estaria bem melhor de vida. Bem que ela me disse: 'não fale em Serra. Voce vai se dar mal'. Não dei ouvidos e agora está todo mundo falando que vou votar no Serra ou que recomendei o voto nele. Não vou. Embora meu partido, o PSOL, vai liberar o voto de seus filiados, não votarei no Serra. Vou anular meu voto. Ajudem-me a divulgar isto."). No que diz respeito a Macapá, os signatários da Carta sabem que a posição do PSOL-CE é antagônica em relação à tal aliança e que de norte a sul o PSOL reage contrário a ela, posto que ela fere deliberação partidária bem expressa em http://psol50.org.br/blog/2012/07/18/congresso-nacional-do-psol-estabeleceu-a-politica-de-aliancas-do-partido-para-as-eleicoes-de-2012/ que veta alianças com todos os partidos da direita tradicional (mas que, pessoalmente, já considero por demais em aberto). A tentativa de mostrar erros alheios (não cometidos pelo PSOL-CE e sequer pelo PSOL enquanto organismo nacional) ficou estranha, pois deixa a entender que é para justificar o erro que está sendo cometido...

Por fim, lembro que a melhor maneira de "puxar" ou "empurrar" uma eventual gestão Elmano (ou RC) é com a mobilização popular, a luta e a organização da oposição de esquerda, com o que contarão com a ação parlamentar do PSOL nas pessoas dxs companheirxs João Alfredo Telles Melo e Toinha Rocha. O taticismo do apoio crítico provavelmente, ao enfraquecer essa perspectiva, dificultará a gestação dessa necessária alternativa. De qualquer modo, a vida é mais rica do que qualquer previsão, especialmente em política (sim, prever clima é mais fácil...), então, espero contar com a presença dos signatários da carta, juntos conosco, nas lutas e mobilizações (nem que seja para levarmos spray de pimenta juntos...). Saudações!