Pela Remoção dos Serviços de Apostas e Pagamentos de Igrejas no M-Pesa
Petição Pública: Pela Remoção dos Serviços de Apostas e Pagamentos de Igrejas no M-Pesa
Nós, cidadãos moçambicanos preocupados com o futuro do nosso país, dirigimo-nos à Vodacom e ao serviço M-Pesa com um apelo urgente e necessário: retirar da plataforma todos os serviços de apostas e todos os pagamentos destinados a igrejas que exploram a fé e a fragilidade económica do nosso povo.
Moçambique é um país onde a pobreza não é um conceito abstracto. É a realidade diária de milhões de pessoas. É a mãe que decide entre comprar pão ou pagar transporte. É o jovem que procura emprego durante anos. É o trabalhador informal que vive apenas do que ganha num único dia. É a desigualdade que cresce enquanto o pouco que existe é arrancado das mãos de quem menos tem.
É neste contexto de vulnerabilidade extrema que dois fenómenos devastadores encontram terreno fértil para destruir ainda mais vidas.
A primeira ameaça é o negócio das apostas. As plataformas de apostas, apresentadas como entretenimento, transformaram-se numa máquina silenciosa de empobrecimento. Arrancam das pessoas o pouco que têm, alimentando ilusões matematicamente impossíveis. As apostas viciam, corroem famílias, criam dependências, destroem rendimentos e transformam esperança em desespero. No M-Pesa, onde tantos vão para pagar pão, escola, energia e água, surgem caminhos directos para perder tudo num simples clique. Isto não é desenvolvimento. Isto é exploração.
A segunda ameaça é o negócio das falsas igrejas. Não falamos da fé verdadeira nem da espiritualidade que consola e levanta o povo. Falamos de instituições que se intitulam igrejas, mas que funcionam como empresas sem escrúpulos. Prometem curas que não existem. Prometem prosperidade que nunca chega. Pedem dinheiro em troca de milagres que nunca se concretizam. Estas instituições não pagam impostos, não prestam contas e alimentam-se da vulnerabilidade emocional e financeira dos mais pobres. O M-Pesa tornou-se, involuntariamente, numa nova forma de colecta automática, onde a fé do povo se converte numa fonte de riqueza para poucos.
Pedimos esta remoção porque não precisamos de ajuda para aprofundar ainda mais a nossa pobreza. O povo moçambicano já carrega fardos pesados. O custo de vida é insuportável. Os empregos dignos são escassos. A violência económica e social torna-se cada vez mais evidente. O mínimo que podemos esperar de uma grande empresa que opera no país é responsabilidade, coerência ética e respeito pelos milhões que dependem da plataforma para sobreviver. O M-Pesa foi criado para facilitar a vida e não para drená-la lentamente. Não pode permitir transformar-se num instrumento que empobrece, manipula e explora os mais vulneráveis.
Assim, pedimos a remoção imediata de todos os serviços de apostas disponíveis no M-Pesa. Pedimos também a remoção de todos os pagamentos destinados a igrejas e organizações religiosas que operam como empresas de exploração da fé. Requeremos ainda a criação de critérios éticos claros que protejam o consumidor vulnerável e exigimos transparência total sobre os serviços aprovados e as entidades beneficiárias.
Estamos a pedir algo simples, justo e urgente: proteger o povo. Proteger aqueles que vivem com tão pouco, mas que ainda acreditam num futuro melhor. Proteger crianças que crescem a ver adultos a perder o salário no telemóvel. Proteger mulheres que entregam o último metical numa semente prometida por pastores. Proteger jovens que, sem oportunidades reais, são seduzidos por falsas promessas de enriquecimento rápido.
A pobreza não é uma maldição. Mas torná-la um negócio é uma ofensa moral que não pode continuar. Por um M-Pesa que sirva o povo e não que o explore, assinamos esta petição com esperança, responsabilidade e amor por Moçambique.
Rui Pinto Martins Contactar o autor da petição